13 de mai. de 2009

O Antiquário

Os carros estavam literalmente parados por toda extensão da Avenida Paulista. Era um dia de verão tão quente que pedaços de corpos eram mostrados sem o menor pudor. Garotas de blusas de alcinha e mini saias que mais pareciam com uniforme escolar.
Camila era mais uma vestida assim. Mulher bem formada, como diriam os pedreiros de um empreiteira que construíam um novo edifício no coração financeiro de São Paulo, andava faceira por suas calçadas. A saia era curta, muito curta para o olhar repreensor de seu Jairo, pai de Camila. A blusa bem colada ao corpo, delineava belas curvas para uma mulher que passava dos trinta anos.
Camila sabia que os homens lhe falariam algumas obscenidades, mas ela fingia-se de surda. Quando os galanteios, que por muitas vezes eram puras frases grosseiras, eram proferidos, Camila fazia cara feia e continuava a andar, não dando atenção, mas lá, bem lá no fundinho de seu ser, quanto mais rude a cantada, mais ela gostava.
Na direção contrária, Camila viu um rapaz mais jovem que vestia bermudas camufladas e camiseta regata. Seu corpo musculoso chamou sua atenção. Quando os dois se cruzaram, Camila percebeu que o rapaz havia se virado para olhá-la. Ela sabia do que sua bunda era capaz. Fazendo cara de ingênua, ela olhou para trás e viu Junior olhando em sua direção. Acalmou o passo e seguiu em frente.
Segundos após, sentiu que alguém andava ao seu lado, seguindo seu ritmo. Era ele. Junior havia dado meia volta e a perseguia no meio de tantas pessoas. Ele a abordou e perguntou para onde ela estava indo. Ela lhe disse que iria encontrar uma amiga para almoçar. Ele a convidou para tomar um suco, que seria coisa rápida, que não queria atrapalhá-la. Camila aceitou na hora.
A lanchonete onde pararam não era das mais limpas, mas em companhia de um corpo daqueles, Camila nem percebeu a higiene do estabelecimento. Foi que em minutos Camila ficou sabendo que Junior trabalhava num antiquário na Avenida Europa, era estudante de arquitetura e morava perto do metro Vila Mariana em um apartamento que dividia com um amigo. Ele a convidou para conhecer o antiquário e lhe deu seu telefone.
Depois de sair do banho, Camila sentou-se nua em sua cama, pegou o telefone e ligou para Junior. Combinaram de se encontrar em frente ao antiquário na manhã seguinte, pois o chefe dele não estaria no trabalho pela manhã. Ele disse à Camila que o chefe era um gay chato, que implicava com tudo e com todos, e por isso achava melhor que ela o visitasse quando ele não estivesse por lá.
Mal Camila tocou a campainha do belo sobrado, a porte se abriu. Junior a puxou para dentro e fechou a porta rapidamente. Quando percebeu, Camila já era beijada calorosamente por Junior. Logo após a ardente troca de saliva, Junior disse que não havia dormido a noite inteira, pensando em seu corpo. A deitou em um divã, que diziam ter pertencido ao famoso psicanalista Sigmund Freud, e puxou suas calcinhas. Em frações de segundo estavam nus, corpos se entrelaçando, num exercício matinal pra lá de saudável.
Do divã para a escrivaninha francesa datada da corte de um Luis qualquer. Foi debruçada aquele móvel de madeira que Camila sentiu o grosso falo de Junior penetrar em seu ânus. Em frente a um belíssimo espelho veneziano, Junior se deleitava ao sentir, e ao olhar, os carnudos lábios de Camila engolirem seu pênis. Junior não negava a raça masculina. Sexo bom para qualquer homem havia de ter um espelho por perto. O sexo masculino era, é e sempre será muito visual, e que as mulheres entendam isso.
Depois de meia hora de troca de fluidos, Camila se encostou em um sofá, completamente exausta. Se recompôs e foi embora. O chefe estava para chegar. Foram vários outros encontros na loja. A cada dia testavam novas posições em novos pedaços de mobília. Quase que todos os móveis foram palco para aqueles belos exercícios sexuais.
Um amigo de Camila a havia convidado para seu aniversário.Gay assumido, João se encontraria com amigos numa boate GLS e Camila iria com eles. Ao entrar na boate, Camila se deparou com um homem que estava de costas para ela, que se parecia em muito com Junior. Para sua surpresa, não é que era ele mesmo.
Junior estava abraçado com um homem baixo, meio gordinho, e este lhe acariciava suas costas. Camila discretamente perguntou ao amigo se ele já havia visto aquele rapaz em algum lugar. Ela quase desmaiou ao saber que Junior era um garoto de programa que já havia saído com boa parte de seus amigos.
Nem é necessário dizer que Camila nunca mais ligou para Junior, e consequentemente perdeu as esperanças nos homens.

10 de mai. de 2009

Millôr Sempre Millôr

GENÉTICA - a genética geralmente impede que o filho do rico seja pobre.

GÊNIO - escritor, para ser genial, não precisa ter muitas idéias: basta que sejam incompreensíveis.

BONDADE - Pode ser engano, mas, pela situação do mundo, parece que o leite da bondade humana azedou de vez.

IDÉIA - a nobreza de uma idéia não tem nada a ver com o canalha que a exprime.

MERCHANDISING - Cristo voltou. Só não ficou porque não encontrou patrocinador.

PINTURA - a pintura abstrata é uma coisa sem pé nem cabeça.

VERDADE - a verdade é aquilo que sobra depois que você esgotou as mentiras.