3 de out. de 2013

Um gueto dentro do gueto

Acabei de chegar de viagem. Fui passar uma semana em Nova Iorque. A última e primeira vez que havia visitado a famosa Big Apple, pude olhar as famosas torres destruídas por fanáticos e constantemente arrumava a franja que insistia em cair sob meus olhos. Para quem me conhece sabe que faz muito tempo. Na companhia de meu cúmplice na arte de amar, na arte de saborear cheiros, sabores e impressões, saímos sem rumos pelas ruas planejadas daquela fascinante cidade de pedra. Numa noite fomos andar pelo Village, conhecido bairro boêmio, onde se concentram vários bares para o público gay. E lá, diferentemente do Brasil, os gays vão para bares, no início da noite, para depois talvez se jogarem aos sons ensurdecedores dos Djs. Não se paga para entrar nos bares, não há consumação mínima, então você pode trocar de bar quantas vezes você quiser, pode voltar ao primeiro que entrou, e assim por diante. Só que um deles me despertou uma curiosidade maior. Após entrar, fui andando em direção ao bar e só então percebi que o bar era frequentado quase que exclusivamente por negros. Posso dizer que não mais de que cinco pessoas tinham a pele de outra cor. Fiquei surpreso. Chegamos ao bar e pedimos duas cervejas. Havia uma mesa de bilhar que parecia ter um dono. Um senhor de uns sessenta anos que era desafiado por outros jogadores e eles levavam aquela partida muito sério. Estratégias, conversas paralelas sussurradas aos amigos. Uma música ambiente e todos conversando e se divertindo. Daí percebi que quando você não faz parte de uma maioria o quanto ficamos intimidados. Não houve nenhum olhar repreensor do tipo “O que estes branquelos estão fazendo aqui”, mas havia um incomodo. Terminamos nossa cerveja e saímos. Porque aqueles homens estavam naquele bar e não no outro do lado da rua? Neste outro, dois rapazes negros é que eram a minoria. Fiquei me perguntando, até quando haverão guetos dentro de guetos? Num mundo plural que vivemos, numa cidade tão miscigenada, ainda há espaço para esta forma de segregação? Talvez por isso que viajar é tão bom, para se ter a possibilidade ver o que é diferente e também o que pode ser tão igual.