17 de fev. de 2009

Conto 01

Este é o primeiro conto que coloco de uma série que escreví. Sempre com os ouvidos bem atentos a todos os tipos de histórias e comentários dos amigos. Espero que gostem.

LINGERIE

Ivete era como qualquer outra dona de casa. Casada há quarenta anos com Lindomar, gerenciava a vida do casal e dos filhos com maestria. Roberto e Gabriela já estavam adultos, mas mesmo assim Ivete não deixava de dar palpites e mais palpites que eram sempre em prol do melhor dos filhos. Ivete ficava em casa sozinha a maior parte do dia. Os programas vespertinos da televisão preenchiam boa parte do seu tempo. Lindomar ficava na fábrica de fivelas para cintos herdada de seu pai. Roberto era recém formado no curso de advocacia e trabalhava em um escritório no centro da cidade. Gabriela estava para finalizar os estudos de arquitetura e enganava a mãe dizendo que estava na casa dos colegas ocupada com projetos e mais projetos, mas na verdade, passava as tardes fumando maconha com a turma de classe.
Logo após ao programa de uma apresentadora quase que insuportável, a rotina de Ivete era ir à cozinha e preparar o jantar. Naquela casa a família inteira jantava junto, sempre que possível. Esta mesma apresentadora, numa tarde de frio intenso, entrevistava uma terapeuta sexual e debatiam o por que das relações esfriarem. O que os amantes, maridos e mulheres, namorados e namoradas deixavam de fazer para a boa saúde sexual do casal. Aquela conversa começou a intrigar Ivete. Não conseguiria ela lembrar-se de quando ela e Lindomar tiveram sua última relação. As crianças já estavam crescidas, isto não era uma boa desculpa. Sexo após os sessenta anos não era possível? Também não servia como desculpa. Ivete ficou pensando no que ela podia fazer para reverter a situação. Não era uma frígida, como diziam os homens. Será que Lindomar não tem ninguém na rua? Pensou ela sentindo calafrios.
No final de semana os filhos não estariam em casa. Havia chegado a hora certa para agir. Logo no meio da semana Ivete ligou para uma amiga para pegar o telefone do salão de beleza onde Julia cortava os cabelos. Marcelo era um mago das tesouras. Transformava brucutus em sereias como poucos. O preço era um pouco salgado, como Ivete mesmo disse à amiga, mas valia o investimento. Nem é necessário dizer que naquela noite, nem Lindomar nem Roberto notaram a transformação que aquele corte fez em Ivete e sua alto estima. Mas Gabriela viu sua nova mãe no momento que pisou na cozinha. O primeiro passo estava dado. A mesma Julia foi que indicou uma loja de lingerie que ficava em uma discreta casa de vila na zona sul de São Paulo.
Julia se ofereceu para ir junto e Ivete no mesmo momento agradeceu e aceitou a ajuda da amiga. Escolheram um conjunto de calcinha e sutiã preto, e uma camisola transparente de seda preta que ficaria por cima. Ivete, um pouco envergonhada com sua própria imagem no espelho, se sentiu sexy. Agora era aguardar o início do final de semana e colocar seu plano em prática. Lindomar se surpreenderia com aquela nova Ivete, e quem sabe a palavra sexo não voltaria a figurar em seus vocabulários novamente.
Como de praxe, Lindomar saiu no sábado a tarde para encontrar os amigos para a famosa cerveja. Voltaria no início da noite e assistiriam a novela sentados no sofá esperando o sono chegar e irem para a cama dormir. O início da noite se apresentava como o de costume, a não ser quando Lindomar notou que Ivete estava particularmente perfumada naquela noite. Foi o próprio Lindomar que desligou a televisão. Virou-se para Ivete e disse:
- Não vai vir para a cama, mulher?
- Daqui a pouco eu vou.
Já no quarto Lindomar tirou a roupa e se deitou vestindo suas cuecas, que estavam um pouco puídas, e uma camiseta para cobrir o peito para não se resfriar. Depois de alguns minutos, ouviu que Ivete entrara no quarto e que estava no banheiro. Algo estava estranho, Ivete não era de demorar muito para se deitar. Quando a porta do banheiro abriu, Ivete ficou de frente à porta, fez uma posição sexy e esperou que Lindomar notasse sua presença.
Lindomar, já um pouco adormecido, viu a silhueta de sua esposa e se sentou na cama para ver melhor. Esfregou os olhos e disse:
- Meu bem, o que você está fazendo aí vestida de morcego?
Ivete, completamente sem graça, pegou suas coisas e foi dormir e chorar no quarto da filha que se encontrava vazio.

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