12 de abr. de 2009

O Melhor

O que é melhor: saber que tenho alguém para ouvir meus demônios, ou meus gemidos?
O que é melhor: saborear o abraço de um amigo antigo ou a pele de um desconhecido?
O que é melhor: levar um beijo antes de dormir ou trocar fluídos com alguém que nem vou saber o nome?
O que é melhor: dividir um cálice com quem se ama ou um cálice com um estranho?
O que é melhor: lembrar de um amor verdadeiro ou não ter amor para lembrar?
O que é melhor: assistir um filme de mãos dadas ou com a mão cheia de pipocas?
O que é melhor: saber que alguém te ama ou ficar na fissura de amar alguém?
O que é melhor? O melhor cabe a nós mesmos.


texto - André Ranzatti

8 de abr. de 2009

Desejos

Ah, como eu gostaria de poder pintar como os Impressionistas. Deixar marcado em telas que foram brancas, a doçura, suavidade e sensibilidade de suas sutis pinceladas.
Ah, como eu gostaria de poder cantar como os pássaros. Alegrar o dia, misturar ao som das metrópoles o doce som da natureza, da pureza.
Ah, como eu gostaria de atuar como os grandes atores. Experimentar novas vidas, novas realidades e tentar passar emoção e tocar corações de vários desconhecidos que iriam se lembrar daquela performance.
Ah, como eu gostaria de ter o dom dos grandes escritores. Levar as pessoas ao desconhecido, às loucuras de uma mente que trabalha no abstrato, que cria mundos mágicos, mundos reais e também mundos utópicos.
Ah, como eu gosto de sentir intensamente aquilo que a vida me apresenta. Sofrer e sorrir, chorar e rir, sentir e sumir, amar, beijar.
Ah, como eu gostaria... Ah, como eu gostaria...
Ah, como eu...
Ah, com...
Ah,...


Texto - André Ranzatti

6 de abr. de 2009

Outras do Millôr

AUTOCRÍTICA - Toda vez que, na intimidade do banheiro, ficava nua, ela morria de rir de seus admiradores.

CRISTIANISMO - Quem dá aos pobres é uma raridade.

DESISTÊNCIA - Se eu fosse o papa vendia tudo e ia embora.

FEMINISMO - As mulheres, afinal, já estão com tudo. Isto é - só falta um pedacinho.

FIDELIDADE - Chama-se de fidelidade esse esforço desvairado que o homem faz para se contentar com uma mulher só. (A frase vale também para a mulher.)

HOMOSSEXUALISMO - Urgências filolibídicas orientadas para canais fisiológicos sem função progenitiva.

RACISTA - Racista é o cara que jamais mandou examinar sua árvore genealógica.

RICOS E POBRES - Pensando nisso, por que pobre não faz voto de riqueza?


Boa semana!!!!!!

2 de abr. de 2009

O Instinto Masculino

Minha bisavó dizia: “Homem é mesmo assim”. Minha avó dizia: “Ele é homem, não é como as mulheres”. Minha mâe dizia: “Homem sempre foi e sempre será assim”. Se fizermos uma conta, podemos afirmar que há bons anos ouvimos estes mesmos discursos, todos dando liberdade aos homens de se comportarem de acordo com o “instinto masculino”. Este “instinto” é aquele instinto animal de que todos falam. Sempre achei um pouco perigoso pensar que temos o “instinto animal”. Não gosto deste “animal”. será que realmente somos como nossos cachorrinhos?
Daí eu te pergunto: quando aquela gostosa do bairro passar por você num dia ensolarado, vestindo uma mini saia e blusinha que salienta fartos seios, o que você faz? E se ela passar por você e lhe der uma piscadinha? Sairia você atrás dela, correndo com saliva na boca e falo na mão e a possuiria no meio de uma rua movimentada?
Se uma cadela no cio passasse em frente de um cachorro qualquer e deixasse que ele a cheirasse, aposto que o cachorro a possuiria no mesmo momento. É seu instinto animal, não?
Tanta volta para falar como a sociedade trata o tema do “instinto masculino”. Acho que homens são diferentes dos animais. Diferentemente, homens têm controle sobre seus atos. Homens não são seres salivantes que ficam eretos assim, de repente. A não ser quando acordam pela manhã e se deparam com tal situação.
Quando a sociedade diz “homem é assim mesmo”, acredito que damos a eles a possibilidade de não respeitar seus pares. É bem cômodo apelar para o “instinto masculino” para justificar puladas de cerca. Sendo assim, o tempo passa, os homens arrumam desculpas para sua própria desonestidade. Pessoas são magoadas.
Provavelmente não estarei vivo para ouvir homens comentando uns com os outros sobre o “instinto feminino”.

31 de mar. de 2009

Minha Vida de Stripper

Não se assustem. Não virei stripper. Meu corpo não seria capaz de atrair nenhum centavo. Estou falando sobre um livro com este título. MINHA VIDA DE STRIPPER. Tinha visto uma matéria sobre este livro que foi escrito pela roterista Diablo Cody na revista Piauí. Diablo é a premiada roteirista do filme Juno, e em 2005 havia publicado este livro falando sobre uma fase de sua vida quando trabalhou como Stripper nos EUA. Depois de muita procura consegui comprar um exemplar do livro e foi só começar para eu não conseguir parar. Umas 200 páginas devoradas como se fosse um canibal curioso pela vida dos outros. Não me chamem de fofoqueiro, ok!!!! Risos. O que mais gostei ao ler o livro foi perceber que aqueles que trabalham na indústria do sexo, e são chamados de amorais, pervertidos, entre outras coisas, são os mais lúcidos. Se minha avó fosse viva, diria que as histórias ali relatadas seriam CABELUDAS. Distintos trabalhadores, cobertos por tecidos nobres, são coadjuvantes de histórias tão absurdas e bizarras que minha maluca imaginação não poderia criar. a moça que tira sua roupa em troca de uns dólares é no fundo a mais "normal", a mais sã de todos. Mas pelo simples fato de ela tirar a poupa para ganhar sua graninha, é taxada com os piores adjetivos. Para quem gosta de um narrativa ágil, cheia de surpresas e bem divertida, recomendo a sua leitura. Não pense que vai ler algo tão bem escrito como os livros do Mario Vargas Lhosa. Mas com certeza, vai ler algo muito revelador sobre a condição humana.

Ah, esta é Diablo Cody recebendo o Oscar pelo filme Juno.

24 de mar. de 2009

Citação 06

" A ignorância produz atrevimento; a reflexão, vagar "

Péricles

Se você já passou dos trinta, concorda ou não com esta afirmação? Para ser sincero, prefiro muito mais minha vida aos 30 do que aos 20. As coisas parecem ser mais serenas, apesar do confuso mundo em que vivemos. Menos medos, menos incertezas, um pouco mais de prudência, que admito deixá-la de lado algumas vezes. A única coisa que realmente ainda tento domar é minha língua. São tantos comentários, mas tantos. Muitos não passam de tolices.Outros até parecem ajuizados. quem me conhece sabe que no fundo gosto mesmo de dizer um monte de bobeiras. Que seja sempre assim.

21 de mar. de 2009

Memórias

Foi numa passada na Livraria Cultura que comprei para rever o filme SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS. Voltei no tempo quase que uns vinte anos. O cabelo nem dava sinal de uma futura escassez, algumas espinhas, que deixariam marcas, cobriam o rosto. Um garoto franzino, que vivia num mundo seu. Sonhador com o futuro, apesar de não tem a mínima noção de como sua vida viria a ser. Me lembro bem, como emocionado fiquei ao assistí-lo. Aqueles garotos descobrindo a vida, seus desejos, percebendo eles mesmos. Acho que gostei tanto pois era um deles, embora do outro lado da tela do cinema. “Oh Captain, my Captain”. Que emocionante foi ouvir e ver os personagens subindo em suas cadeiras para se despedirem de seu professor. Que bom que puderam expressar seu apreço frente à frente. Às vezes, professores não têm a menor idéia de como podem marcar as vidas de seus pupilos.
Sempre dizia que este filme fazia parte da minha lista TOP TEN. Com o passar dos anos, outros foram tomando seu lugar. UM BEIJO ROUBADO, 21 GRAMAS, O LUTADOR (mais recente), AMOR A FLOR DA PELE, entre outros. Hoje, quando o filme acabou, me peguei com lágrimas nos olhos, emocionado pela história, pela lembrança daquele André de antigamente. Acho que ele voltou para o TOP TEN. Que bom!!!!

18 de mar. de 2009

CLOSER

Não dá para assistir ao filme CLOSER e não se pegar pensando na vida. Primeiro, para quem gosta um pouco de música, pode se deleitar com a canção THE BLOWER´S DAUGHTER do Damien Rice, depois é só de jogar no sofá e se render ao filme. Aliás, esta é aquela canção, aquela mesma que tivemos a infelicidade de ouvir nas versões da Simone e da Ana Carolina e Seu Jorge. Era só ligar o rádio do carro, do banheiro, da sala ou da cozinha para ouvir as “sofridas” versões a tal bela canção.
Quatro personagens que se encontram e se desencontram. Desejo, amor, traição, mentira. Tudo aquilo a que estamos sujeitos, mas não necessariamente desejamos. Desejar é bom, não vou negar. Amar é ótimo, recomendo. Traia e ser traído, acredito que não cabe num relacionamento honesto e lúcido. Mentira, não acho correto.
Dois homens, duas mulheres. Casais trocados. Salivas também. Sexo também. Adultos magoados. Sonhos destruídos. Planos adiados. Uns criam um certo medo. Medo de amar de novo. Acho que depois do término de um relacionamento, o maior medo é o de que ele, e não eu, se apaixone primeiro.
E pra você?


16 de mar. de 2009

Uma Passada na Livraria

Um dos meus passatempos preferidos é dar uma passada em uma livraria. Ficar olhando, folheando livros e mais livros. Resistir a tentação de comprá-los, assunto pra terapia. Já tinha visto o livro A BÍBLIA DO CAOS do Millôr Fernandes, mas ontem é que não resistí a tentação. Então, de agora em diante, vou dividir alguns de seus pensamentos para depois discutirmos se ele é mesmo gênio, ou de onde ele veio.

SEXO

1 - Sexo é a única atividade que pode dar enorme prazer a duas pessoas que se detestam.
2 - Bons tempos aqueles em que havia apenas três sexos.
3 - Intelectual pensa que sexo oral é ir para a cama com uma mulher e ficar a noite inteira falando sobre sexo.
4 - Se a cama falasse diria " Pô, como esse pessoal conta vantagem!"
5 - Na hora de transar fecha a janela. O amor é cego, mas os vizinhos estão todos de binóculos.

Estas são algumas das inúmeras definições que aos poucos vou compartilhar com vocês.

Boa Semana!!!!!!

10 de mar. de 2009

Desculpinhas!!!

"Ele come mocotó", "Ela não sabe quem é o Lars Von Trier", "Ele tem micose", "Ele entrou no carro com um danoninho na mão", "Ela nunca visitou um país estramngeiro", "Ele fala POBREMA", "Ele mora mal", "ela faz chapinha", "Ele não tem dinheiro", "Ela namorou um jogador de futebol", "Ela é prima daquela piranha que trabalha na TV", "Ele vai no centro espírita", "Ele usa terno bege", "Ele tem espinha", "Ela tem chule", "Ele solta pum e arrota", "Ela não lê", "Ele ronca", "Ela só ouve Ivete Sangalo", "Ele só ouve Black Sabbath" .....

Verdadeiras ou não, estas desculpinhas nos afastam, repelem possíveis amores. É melhor dizer não gostei. Não vamos diminuir os outros para justificar que não tivemos interesse. Mas também temos que ficar atentos e não entrar naquelas que "sou tão bacana que parece que não existe ninguém para mim". Você pode acabar sozinho. Basta saber que não dá para amar aquele ou aquela MOVIE STAR que achamos ser perfeito ou perfeita para nossas vidas. Sabe porque? Eles peidam também.

9 de mar. de 2009

Até Quando

É só mexer nos documentos empilhados no fundo de um armário qualquer, que podemos encontrar coisas, coisas que estavam num passado e porque não podem até hoje fazer algum sentido. Foi assim que encontrei uma página de caderno meio amarelada, no meio de pastas antigas, cheias de documentos antigos. Este texto foi escrito em Janeiro de 1996. As circunstâncias que me fizeram escrevê-lo foram perdidas por minha mente, mas deve ter sido difícil de enfrentar.

Até Quando

Até quando terei que lutar
Lutar para esquecer
Até quando terei que sofrer
Sofrer por um amor não correspondido
Até quando tentarei procurar respostas
Respostas às minhas descabidas perguntas
Até quando tentarei mascarar as coisas
Coisas que me sufocam
Até quando serei um tolo
Tolo em acreditar nas pessoas
Até quando suportarei a dor
Dor que me faz sangrar
Sangrar por não saber
Não saber onde errei
Se errei

texto - André Ranzatti

8 de mar. de 2009

Citação 05

Se pararmos para pensar nos anos que ainda estão planejados para nós, paremos e pensemos:

" A velhice é uma tirana que proíbe todos os prazeres da juventude sob pena de morte"

La Rochefoucauld

Por isso que ainda continuo com a idéia de envelhescer como aqueles velhinhos do filme COCOON.

6 de mar. de 2009

Depois de alguns Drinks!!!!

Sabe como é: abre-se uma garrafa de vinho, outra, toma-se umas latas de cervela, e então, só Deus sabe.

"O cd começou a tocar. Era ela. O suave tom de sua voz fazia daquela noite algo diferente. Ele estava ao meu lado. Já não tão sóbrio, deixava sair de seus lábios palavras e mais palavras, sem controle, sem freios. Mais uma pausa para mais um gole. Palavras que alegravam minha alma. Palavras que alimentavam meus sonhos. O timbre de sua voz cantarolando junto a ela, casamento de som e vozes? Melhor parar? vou deixar de ter razão pelo menos por alguns momentos. Quero ficar congelado de olhos abertos e fixos. Tudo que mais quero é ficar de olho nele. Olhar seus movimentos, seus passos pela sala. Quero ver seu gingado, sua surpresa, suas reações. Agora é uma outra que canta para nós. Quem sabe amanhã conseguirei lembrar o resto da noite, para então, poder contar o que aconteceu depois."

Texto - André Ranzatti

3 de mar. de 2009

Choro da Alma

Quando saí da cama, logo senti que algo não estava bem. Um desconforto, uma sensação estranha, nenhuma sensação física, apesar do frio matinal.
Encurralado pelo meu próprio corpo, me arrastei com passos bem curtos até o banheiro. Sensação nova, virgem, creio que poderia nomeá-la assim.
Ao olhar no espelho, vi meu próprio reflexo. Era o mesmo de qualquer outra manhã, manhã que poderia ser feliz, triste, fria, quente, esperançosa ou depressiva. Mas algo mesmo assim me incomodava.
Começo a tatear o corpo a procura de alguma dor. Dor física que é despertada por um cérebro ativo, por uma mente viva. Nada, meros toques. Toques comuns, toques.
Angústia, desespero, insatisfação, decepção, o que era aquilo que sentia? Porque as lágrimas não chegavam aos meus olhos? Porque não conseguia chorar? Porque dei ouvidos à sociedade e acreditei que homens não choram?
Agora não consigo quebrar estas barreiras, as lágrimas definitivamente não irão molhar minha face, não escorregarão pelas maçãs do meu rosto e nem serão acolhidas pelo tecido da minha blusa. Só pode ser minha alma chorando, dentro de mim, triste, calada e dilacerada.

Texto - André Ranzatti

2 de mar. de 2009

Fim de Semana No Cinema

Como não tinha tido tempo para assistir alguns dos filmes que concorriam ao Oscar, apesar do calor que fez na cidade, me joguei com o Rogério nas salas de cinema da cidade. Na sexta, assistímos O LUTADOR. O galã dos anos 80, Mickey Rourke, numa atuação muito boa, apesar de parecer fazer o papel dele mesmo, fez com que eu parasse para pensar na vida daqueles que têm vidas tão distantes das nossas. Carreiras decadentes, relações afetivas inexistentes, esperança nenhuma. Marisa Tomey no papel de uma garota de programa simplesmente arrasou. Despudorada, nua, sem barreiras, talvez uma das poucas que encarariam o papel. No sábado assistímos MILK. Como disse um grande amigo: " O Sean Penn abusou do direito de interpretar bem." nem vou comentar. No domingo DÚVIDA. Aquela safada da Meryl Streep fazendo uma freira amarga é de doer. Vai ser boa assim no inferno. A cena que ela contracena com a atriz Viola Davis é de tirar o folego. Esta última aparece somente nesta cena e isto foi suficiente para ela concorrer ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Filmes, filmes e mais filmes. A lista dos que quero ver ainda não acabou. Acho que não vou conseguir sair das salas de projeção por um bom tempo.

Boa Semana para todos!!!!!

26 de fev. de 2009

Citação 04

Sábio Giberto Freire, que disse:

" Branca para casar, mulata para foder, negra para trabalhar "

Será que algo mudou ou tudo continua a mesma coisa?????
Quem viver verá.

25 de fev. de 2009

MILK

Por ter viajado no feriado de carnaval, não consegui ver a apresentação dos prêmios Oscar. Só havia conhecido alguns nomes dos felizardos vencedores nos telejornais que passaram alguns segundos dos discursos de agradecimento. Com o advento da internet, logo que cheguei em casa fui procurar alguma coisa sobre a premiação. Fiquei emocionado com os discursos de Sean Penn e Lance Black, respectivamente, premiados por melhor ator e melhor roteiro original. Quando falaram sobre o casamento gay e ter a liberdade de viver uma vida abertamente, se dando o direito de se apaixonar e casar, me deixaram arrepiado.



17 de fev. de 2009

Do Fundo do Baú

Estava dando uma olhada nos textos que tenho arquivado no computador e me deparei com um escrito para a minha terapeuta. Lembrei de imediato o quanto estar sentado naquela poltrona foi importante para mim.


Conhecer a si mesmo. Conhecer suas próprias entranhas. Conhecer seus monstros, mesmo ao olhar no espelho. Diagnosticar desejos, raivas, virtudes e defeitos. Ter o entendimento do profundo, do raso, do belo e também do horroroso que habita em nós. Deixar a música te tocar, as imagens devorarem sua retina, os odores entrarem sem pedir licença. Permitir o choro, o desespero, a alegria, a felicidade, por mais efêmera a vida. Orgulhar-se daquilo que é puro, e não ter vergonha de ser você mesmo. Não acreditar na plenitude, não almejar a perfeição. Acreditar naquilo que é, e pronto. Negar as convenções, sorver os pequenos momentos de êxtase. Não achar que a vida é algo difícil, aprender a rir de si mesmo, do mundo, não se levar tanto a sério. Cuidar de quem está perto, dar-lhe colo. Puxar orelhas. Chorar, chorar, chorar. Entender a dor e não esquecer que ela pode ser, inconscientemente, uma de suas melhores amigas. Amar, amar, amar. Amar com a mais pura alma. Amar com todos os sentidos. Deixar a paixão chegar e não afastá-la. Estas são muitas das coisas que você me ensinou. Obrigado por acreditar em mim. Obrigado.

Conto 01

Este é o primeiro conto que coloco de uma série que escreví. Sempre com os ouvidos bem atentos a todos os tipos de histórias e comentários dos amigos. Espero que gostem.

LINGERIE

Ivete era como qualquer outra dona de casa. Casada há quarenta anos com Lindomar, gerenciava a vida do casal e dos filhos com maestria. Roberto e Gabriela já estavam adultos, mas mesmo assim Ivete não deixava de dar palpites e mais palpites que eram sempre em prol do melhor dos filhos. Ivete ficava em casa sozinha a maior parte do dia. Os programas vespertinos da televisão preenchiam boa parte do seu tempo. Lindomar ficava na fábrica de fivelas para cintos herdada de seu pai. Roberto era recém formado no curso de advocacia e trabalhava em um escritório no centro da cidade. Gabriela estava para finalizar os estudos de arquitetura e enganava a mãe dizendo que estava na casa dos colegas ocupada com projetos e mais projetos, mas na verdade, passava as tardes fumando maconha com a turma de classe.
Logo após ao programa de uma apresentadora quase que insuportável, a rotina de Ivete era ir à cozinha e preparar o jantar. Naquela casa a família inteira jantava junto, sempre que possível. Esta mesma apresentadora, numa tarde de frio intenso, entrevistava uma terapeuta sexual e debatiam o por que das relações esfriarem. O que os amantes, maridos e mulheres, namorados e namoradas deixavam de fazer para a boa saúde sexual do casal. Aquela conversa começou a intrigar Ivete. Não conseguiria ela lembrar-se de quando ela e Lindomar tiveram sua última relação. As crianças já estavam crescidas, isto não era uma boa desculpa. Sexo após os sessenta anos não era possível? Também não servia como desculpa. Ivete ficou pensando no que ela podia fazer para reverter a situação. Não era uma frígida, como diziam os homens. Será que Lindomar não tem ninguém na rua? Pensou ela sentindo calafrios.
No final de semana os filhos não estariam em casa. Havia chegado a hora certa para agir. Logo no meio da semana Ivete ligou para uma amiga para pegar o telefone do salão de beleza onde Julia cortava os cabelos. Marcelo era um mago das tesouras. Transformava brucutus em sereias como poucos. O preço era um pouco salgado, como Ivete mesmo disse à amiga, mas valia o investimento. Nem é necessário dizer que naquela noite, nem Lindomar nem Roberto notaram a transformação que aquele corte fez em Ivete e sua alto estima. Mas Gabriela viu sua nova mãe no momento que pisou na cozinha. O primeiro passo estava dado. A mesma Julia foi que indicou uma loja de lingerie que ficava em uma discreta casa de vila na zona sul de São Paulo.
Julia se ofereceu para ir junto e Ivete no mesmo momento agradeceu e aceitou a ajuda da amiga. Escolheram um conjunto de calcinha e sutiã preto, e uma camisola transparente de seda preta que ficaria por cima. Ivete, um pouco envergonhada com sua própria imagem no espelho, se sentiu sexy. Agora era aguardar o início do final de semana e colocar seu plano em prática. Lindomar se surpreenderia com aquela nova Ivete, e quem sabe a palavra sexo não voltaria a figurar em seus vocabulários novamente.
Como de praxe, Lindomar saiu no sábado a tarde para encontrar os amigos para a famosa cerveja. Voltaria no início da noite e assistiriam a novela sentados no sofá esperando o sono chegar e irem para a cama dormir. O início da noite se apresentava como o de costume, a não ser quando Lindomar notou que Ivete estava particularmente perfumada naquela noite. Foi o próprio Lindomar que desligou a televisão. Virou-se para Ivete e disse:
- Não vai vir para a cama, mulher?
- Daqui a pouco eu vou.
Já no quarto Lindomar tirou a roupa e se deitou vestindo suas cuecas, que estavam um pouco puídas, e uma camiseta para cobrir o peito para não se resfriar. Depois de alguns minutos, ouviu que Ivete entrara no quarto e que estava no banheiro. Algo estava estranho, Ivete não era de demorar muito para se deitar. Quando a porta do banheiro abriu, Ivete ficou de frente à porta, fez uma posição sexy e esperou que Lindomar notasse sua presença.
Lindomar, já um pouco adormecido, viu a silhueta de sua esposa e se sentou na cama para ver melhor. Esfregou os olhos e disse:
- Meu bem, o que você está fazendo aí vestida de morcego?
Ivete, completamente sem graça, pegou suas coisas e foi dormir e chorar no quarto da filha que se encontrava vazio.

15 de fev. de 2009

Hoje

Hoje resolvi dormir. Não vou mais permitir os pensamentos. Vou afastá-los, vou extirpá-los. Só pode ser o demônio rondando meus lençóis.
Hoje resolvi dormir. Vou tentar não pensar onde você possa estar. Que lábios possam estar encostados aos seus. Que pele encostada a sua.
Hoje resolvi dormir. Tentarei apagar memórias doces, memórias de um doce amor.
Só hoje não vou mais perturbar minha mente, imaginando o porque de você ter me deixado. Quero meu sossego, minha paz, minha dor, meu desencanto, meu breu.
Hoje vou ficar aqui. Quieto, triste, pensativo, desiludido. Só hoje não vou mais acreditar no amor.
Hoje resolvi viver. Hoje resolvi viver, mesmo que tenha que esquecer você.

Texto - André Ranzatti